Alguns contos
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Alguns contos
Mais frutos das minhas horas sem internet. Fui fazendo sem nem pensar e seguindo padrões estranhos para ver no que dava.
O último soar da flauta
E no ato pegou sua flauta. E o peito estufou prontamente. Junto dele, outros tantos. Cada qual com seu instrumento. Tocaram e cantaram, cantaram e tocaram alegremente. E ao cair da noite, enfim pararam de tocar.
E de repente, no meio da noite. O zumbido dos motores, o medo nas ruas. As ruas encheram-se de medo, e soldados que se embrenhavam entre os medos. E os motores, no céu. As asas, as metralhadoras.
E no ato, com sua flauta. Olhou ao horizonte, aos motores, aos medos e aos soldados. Tocou outra de suas canções. O medo alegrou-se, os motores pararam de zumbir, os soldados alegraram-se também, engrenhados entre os, agora, alegres.
E de repente, do alto da colina, uma voz estridente. Rompeu os céus e logo perdeu força. Era uma voz belíssima, mas era, acima de tudo, maligna. E grunhiu, e grunhiu. Fez cair os aviões, fez chorar os soldados. Alimentou-se dos alegres.
E no ato, não... Não estava mais com a sua flauta. Se desfizera entre os berros malignos. Pelo bem de todos, pôs-se ao chão, de joelhos. Com seus olhos tristes, e boca pequena. Cantou uma canção. A voz rouca, logo falhou.
E de repente, num ato de misericórdia, pôs fim ao seu sofrimento. E até hoje, em seu túmulo. Há uma flauta que canta e canta, rumando ao vento. Mas não canta mais na pequena vila. Há muito pelo maligno, já destruída.
O relógio da viúva
Do verso do mar
O último soar da flauta
E no ato pegou sua flauta. E o peito estufou prontamente. Junto dele, outros tantos. Cada qual com seu instrumento. Tocaram e cantaram, cantaram e tocaram alegremente. E ao cair da noite, enfim pararam de tocar.
E de repente, no meio da noite. O zumbido dos motores, o medo nas ruas. As ruas encheram-se de medo, e soldados que se embrenhavam entre os medos. E os motores, no céu. As asas, as metralhadoras.
E no ato, com sua flauta. Olhou ao horizonte, aos motores, aos medos e aos soldados. Tocou outra de suas canções. O medo alegrou-se, os motores pararam de zumbir, os soldados alegraram-se também, engrenhados entre os, agora, alegres.
E de repente, do alto da colina, uma voz estridente. Rompeu os céus e logo perdeu força. Era uma voz belíssima, mas era, acima de tudo, maligna. E grunhiu, e grunhiu. Fez cair os aviões, fez chorar os soldados. Alimentou-se dos alegres.
E no ato, não... Não estava mais com a sua flauta. Se desfizera entre os berros malignos. Pelo bem de todos, pôs-se ao chão, de joelhos. Com seus olhos tristes, e boca pequena. Cantou uma canção. A voz rouca, logo falhou.
E de repente, num ato de misericórdia, pôs fim ao seu sofrimento. E até hoje, em seu túmulo. Há uma flauta que canta e canta, rumando ao vento. Mas não canta mais na pequena vila. Há muito pelo maligno, já destruída.
O relógio da viúva
- Spoiler:
Pobre relógio, pobre de tudo. Tão velho, acinzentado, negro como o céu. Há muito chorou sobre ele a viúva. Seus ponteiros já não se mechem mais. O inestimável valor material que tinha, agora não passa de insólito valor sentimental, e demais bobagens sentimentaloides. De frente pra janela, como a observar os pássaros lá fora. Quando chove, o pobre chora, chora as mágoas; pelas quais já fora um dia lenço.
Não tardou muito. Sem a viúva. Para descartarem o pobre relógio. Jogado na rua, com a sua madeira danificada pela violência do filho. Sol e chuva, sol e chuva, a bela madeira apodreceu. As engrenagens já em mau estado, enguiçaram de vez. E o pobre relógio, espera a sua hora chegar, tão triste quanto a viúva. Mas, diferente dela, não tinha o pobre relógio, lugar aonde chorar.
Logo, logo, vendo tamanha tristeza do velho móvel. O relojoeiro com sua boina típica italiana carregou-o em seus braços, como quem carrega noiva, até a sua casa. Parafuso vai, parafuso vem, e nesse ritmo, os dias se passaram. Logo, depois de tanto trabalho estava ele, o pobre relógio novinho em folha.
E que momento foi. Quando suas engrenagens receberam o óleo milagroso do relojoeiro. Os ponteiros voltaram a andar, como por obra do destino. A hora do relojoeiro já havia chegado. Despertou o cuco no fundo da sala. E o carro funerário já o levava.
Do verso do mar
- Spoiler:
E tragados pelas ondas. Jogados de um lado pro outro, em alto mar. Eram os maus ventos que se aproximavam. Traziam consigo as caravelas do imperador. “A estibordo, a estibordo homens” na confusão de água, madeira e berros, o capitão tentava controlar sua tripulação “A estibordo, sem cessar” e sem força para batalhar, retou-lhes uma fuga desonrosa. A pequena embarcação titubeou, titubeou, por pouco não virou. E o capitão aos berros. Cercaram-nos por todos os lados, malditas caravelas.
Por todos os lados só se via caravelas. A tripulação preparou-se para abandonar o navio. Para o capitão porém, derrota seria se lançar ao mar. Pelo contrário, decidiu ficar no pequeno navio e se preciso, com ele afundar. Vendo tal gesto do capitão, todos os outros decidiram aceitar o mesmo destino trágico. O capitão juntou-os no convés, para mais uma de suas histórias. Dessa vez seria a última, prometeu o capitão. Todos emocionados fizeram o possível para conter as lágrimas.
_Olhem – disse o capitão, tirando o chapéu do topo da cabeça – esse é ermta – apontou para uma símbolo que acabara de riscar na madeira do convés – é uma das 37 letras do alfabeto gmnté – todos o encararam confusos. Um deles ousou perguntar:
_Alfabeto gmnté? Nunca ouvi falar.
_Mas... Isso é óbvio. Sua anta! - este alfabeto pertence a uma língua que eu mesmo criei. Decodifiquei todos os meus mapas com ela. Creio que vai demorar um bom tempo para que decifrem tudo depois.
_Espera... - interviu Jack da perna de pau – o senhor criou um alfabeto?
_Não só um alfabeto – puxou de debaixo do braço um caderno – olha, regras gramaticais, pronomes, tudo. Eu criei tudo.
_Deve ter dado muito trabalho...
_É claro que deu. Mas tudo compensa. Imagina só! Criar um idioma todinho seu, que ninguém mais sabe – ele levantou animado. Jogou o caderno no chão e virou-se para as caravelas imperiais – vejam esses idiotas. Eles estão nos perseguindo pelos nossos mapas – todos olharam para ele sem entender o que queria dizer – não percebem? Eles nunca vão descobrir o que os mapas dizem.
Depois de um momento do silêncio seguido pelo barulho do bater das ondas no casco do navio, todos viraram os olhos para o capitão impressionados. Mais bater de ondas. O capitão começou a arrancar cuidadosamente as folhas do caderno e colocá-las em garrafas de rum.
_O que estão esperando? Me ajudem.
_Mas capitão, a ideia não era que só o senhor conhecesse essa língua? - o capitão olhou fixamente para os olhos de Jack, e com um expressão séria respondeu:
_Não seja idiota! Beethoven não poderia chamar as suas obras de música se guardasse-as para si – ignorando as perguntas de quem era Beethoven, ele continuou – agora, tratem de tampar bem essas garrafas, e jogá-las bem longe das caravelas imperiais.
A bravura daquele capitão e de seus marujos rapidamente foi esquecida pela história. Mas as suas cartas nas garrafas de rum continuaram boiando por muito tempo. Até que acabaram chegando na costa de algum lugar do mundo alguns anos depois.
_Uma garrafa? - ele se perguntava enquanto tentava retirar a rolha. De cara, um papel por sobre a carta. “Parabéns, caro criador de mundos, você encontrou a minha carta. Estude-a com muita dedicação, e então, o meu tesouro será seu.” Na parte de baixo do papel “Assinado Capitão-” a rolha danificou o resto da mensagem.
_O que? Um tesouro? Mas por onde é que eu vou começar? - de imediato, quase como uma resposta a sua pergunta surgiu uma outra garrafa – comece por aqui? O que isso significa? - como toda boa história, as cartas trouxeram mais dúvidas do que respostas. O que é certo, é que essa aventura está apenas começando.
Continua...
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